Jayme Monjardim é famoso por suas novelas, mas
ganhou destaque como diretor de cinema por Olga, de 2004. É ele quem assina a adaptação
da obra imortal de Érico Veríssimo, "O Tempo e o Vento", focado nas
histórias Ana Terra e Um Certo Capitão Rodrigo, com elementos de O Sobrado. A
odisseia da família Terra Cambará é contada a partir das memórias de Bibiana Terra
com seus mais de 80 anos - interpretada magnificamente por Fernanda Montenegro
- em diálogo com o espírito de seu marido, o Capitão Rodrigo Cambará (Thiago
Lacerda).
Bibiana relembra a história de sua família até
aquele momento. Desde seu avô Pedro Missioneiro e sua avó Ana Terra, passando
por sua história de amor com o Capitão Rodrigo e a rusga com a família Amaral.
Desde as missões jesuíticas, passando pela Revolução Farroupilha até aquele
ponto durante a Revolução Federalista, quando a família Terra Cambará está
sitiada em seu sobrado em Santa Fé, ameaçada pelos Amaral.
O ponto alto do filme é a fotografia, ilustrada prodigiosamente
pelas paisagens do Rio Grande do Sul. O que mais me preocupava era se as
atuações seriam respeitosas e foram, na maior parte do tempo. Thiago Lacerda
convence como o Capitão Rodrigo ao representar um gaúcho valente, bonachão,
leal e galanteador. Fernanda Montenegro mostra que realmente é a melhor atriz
brasileira de todos os tempos. Sua capacidade de transmitir apenas pelo olhar o
sentimento de uma jovem apaixonada ainda na velhice é realmente cativante. Marjorie
Estiano também está muito bem ao representar a jovem Bibiana, bem como Cléo
Pires no papel de Ana Terra. Mais um destaque brilhante é o ator gaúcho Zé Adão
Barbosa como o Padre Lara que se contrasta muito bem nas cenas com Thiago
Lacerda.
Como a história é muito longa, acredito que teria
sido mais bem aproveitado se fossem dois longas-metragens, onde poderia se dar
mais destaque a “O Sobrado” história fundamental no universo de “O Tempo e o
Vento”. O excesso de fragmentação por fade
out torna o filme um pouco cansativo e, às vezes, devagar. Ainda, nota-se que alguns atores prometidos para o filme simplesmente não apareceram ou passaram muito despercebidos, o que denota uma gama de cortes na produção final (Igor Rickli, Rafael Cardoso e Mayana Moura). As cenas de
guerras e combates foram bem retratados, mas pouco explorados. O que realmente
me incomodou no fim do filme foi a escolha do ator mirim Kaic Crescente como o
bisneto de Bibiana, Rodrigo Terra Cambará, pois o garoto tem o sotaque carioca
muito carregado e, principalmente, a seleção de uma música em inglês nos
créditos cantada por Maria Gadú, completamente destoante de todo o filme.
Colocando tudo na balança, o saldo é positivo. A
produção foi respeitosa com a obra de um modo geral e procurou também retratar
fielmente aspectos da cultura do Rio Grande do Sul. Aproveitem!
Até a próxima!
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