O filme conta a história de como Clark Kent descobre ser o alienígena Kal-El, o último de sua raça, enviado à Terra por seu pai, Jor-El, na iminência da destruição de seu planeta Krypton. Durante sua criação do interior do Kansas pelos pais adotivos Jonathan e Martha Kent, vai descobrindo seus super-poderes, ativados pela radiação de nosso Sol em suas células. Ciente de como sua existência pode afetar a forma que os terráqueos vêem o universo, ele passa sua vida escondendo suas habilidades e em busca da verdade sobre sua existência. Ao descobrir uma nave kryptoniana soterrada há 20.000 anos ele esbarra em Lois Lane, uma repórter do jornal Planeta Diário que irá espalhar para o mundo a possibilidade de vida alienígena. Enquanto Clark se esconde, surge uma nave kryptoniana na Terra, liderada por General Zod, o assassino de Jor-El, que exige sua rendição imediata, o que o obrigará a se apresentar a todos os terráqueos.
Ao juntar Zack Snyder, como diretor, e Christopher Nolan, como produtor, a proposta de Man of Steel era recriar o personagem de uma forma um pouco mais dramática e madura. O objetivo era seguir o exemplo do que Nolan já havia feito em Batman Begins, além de dar o toque especial de uma estética fantástica, como Snyder costuma fazer em seus filmes (300, Watchmen, Sucker Punch).
Apesar de ser Snyder o diretor, é visível a influência de Chris Nolan durante a exibição. Nolan adora contar histórias de forma não-linear, obrigando o espectador a prestar mais atenção no que está acontecendo. Em Homem de Aço, ele conta a infância de Kal-El / Clark Kent a partir de suas lembranças, assim como fez com Batman (de 2005). O problema é que a busca do personagem por saber quem realmente é ficou muito rasa no filme, e esta é uma questão central para qualquer boa história. Resumindo, ele descobriu muito rápido que era "super" e partiu logo para mais cenas de ação.
Ainda sob este prisma, há de se ressaltar que, na história original do personagem, o pai adotivo de Clark, Jonathan Kent, exerce uma influência muito grande na sua vida. Ele o cria para ser um home de bem e livre para tomar suas decisões, mas sempre ciente de suas responsabilidades, principalmente por tudo que ele pode fazer. Nesse aspecto, a interpretação de Kevin Costner teve um peso para a dramaticidade do filme, mas, a meu ver, o filme se focou muito mais no sentimento de proteção e previdência do pai biológico, Jor-El (Russel Crowe), que em sua maioria das versões não recebeu mais do que uma menção honrosa como um coadjuvante distante. Crowe é um ator fantástico e em ótima forma, mas acredito que, para a dramaticidade da obra, seu personagem não precisava ter tido tanto destaque, como uma figura praticamente onisciente.
Vou dar uma "colher de chá"... O filme não é ruim, mas podia ser melhor. Há de se pesar o contexto da produção: os filmes da Marvel (Os Vingadores, Homem de Ferro, etc) são rasos em dramaticidade, mas riquíssimos em ação e efeitos visuais, e tem feito muito mais sucesso do que os últimos da DC (vide o insucesso de Lanterna Verde). Assim, justifica-se o apelo comercial nesta obra. Acredito que os produtores, roteirista e diretores pensaram assim: "Ok, todo mundo já sabe quem é o Super-Homem, não vamos enrolar muito e vamos dar mais ação e adrenalina para preencher mais de 2 horas de filme"
Mesmo assim, é possível perceber alguns diferenciais que ainda me fazem preferir a produção do Homem de Aço à do Homem de Ferro. Nolan e Snyder são autorais, focados em Cinema, por isso há uma preocupação em captar uma fotografia mais elaborada, há uma sensibilidade maior para a captação de detalhes de uma porta, um brinquedo, uma cadeira... além de uma direção de arte muito mais elaborada, enquanto os filmes da Marvel estão focados no centro da ação, por isso, em sua maioria, trazem diretores especialistas em Televisão. Os figurinistas já merecem um prêmio pela audácia de tirar a sunga vermelha do uniforme do Superman.
Quanto às atuações, não há o que se destacar, pois, como disse, a dramaticidade foi rasa. Além disso, o elenco é um time Oscarizado e não teria como dar errado. Henry Cavill, apesar de ser o menos experiente em Hollywood é o ator principal e teve poucas falas. Parece ter sido escolhido pelo porte físico e rostinho de bom-moço do que pelo talento.
A personagem de Amy Adams, Lois Lane, é que me pareceu um pouco exagerada. Sempre tive a impressão de Lois como uma workaholic, sempre em busca de reconhecimento, mas que raramente alcançava. Sua vida muda quando ela tem acesso ao Super-Man. Mas neste filme foi diferente, ela já aparece como uma jornalista de sucesso, vencedora de um Pulitzer, e já se apaixona e se relaciona com Superman à primeira vista.
Destaco entretanto a psicótica atuação de Michael Shannon como General Zod. Ele conseguiu transmitir com segurança e maestria o sentimento de alguém que foi gerado e criado exclusivamente para ser um líder militar e manter à salvo o povo de Krypton, a qualquer custo.
O filme é carregado de simbologias e mensagens quase subliminares. Mais uma vez ele foi retratado com um herói americano. Apesar de ser alienígena, ele foi criado em uma fazenda no Kansas, sob a cultura americana de ser um homem de bem e com o compromisso de proteger e servir aos outros, como se fosse mais um órgão do governo, sem esquecer o compromisso com a família. Ele literalmente diz isso no fim do filme "Eu fui criado no Kansas, sou tão americano quanto você".
Há também uma associação messiânica: No início do filme, Jor-El diz para sua esposa Lara: "Ele será um deus entre eles". Além disso, ele surge, aos 33 anos de idade, como aquele que irá salvar o mundo, sacrificando-se por pessoas que não conhece. Na hora de tomar a decisão de se apresentar ao mundo, ele consulta um padre católico, numa cena com a imagem de Jesus num vitral às suas costas. Precisa ser mais óbvio?
Há também uma associação messiânica: No início do filme, Jor-El diz para sua esposa Lara: "Ele será um deus entre eles". Além disso, ele surge, aos 33 anos de idade, como aquele que irá salvar o mundo, sacrificando-se por pessoas que não conhece. Na hora de tomar a decisão de se apresentar ao mundo, ele consulta um padre católico, numa cena com a imagem de Jesus num vitral às suas costas. Precisa ser mais óbvio?
Por fim, o filme não deixa ganchos aparentes para uma continuação óbvia. Nem mesmo é feita alguma alusão à Lex Luthor durante o filme, o arqui-inimigo do Superman. Mas é provável que um novo filme seja produzido para 2015 trazendo o vilão careca de volta às telonas. Aí sim, acredito que haverá uma chance maior de Cavill demonstrar seu talento e de Zack Snyder amadurecer um pouco mais os dramas do personagem.
Bota a tua capa vermelha e confere no cinema o novo Homem de Aço, mas vá com um espírito mais infantil para se divertir mais. Confere abaixo o trailer do filme para já entrar no clima!