No filme Aqui é o meu lugar, Sean Penn interpreta Cheyenne, um decadente astro do rock, vivendo agora no ostracismo, numa cidade da Irlanda. É engraçado como seu personagem foi caracterizado à semelhança de Robert Smith, do The Cure, mas com os trejeitos e sequelas de Ozzy Osbourne.
Na trama, Cheyenne recebe a notícia de que seu pai, que vive nos Estados Unidos, está morrendo, obrigando-o então a regressar à terra natal. Lá, o roqueiro fica sabendo que, durante muitos anos, seu pai procurava pelo homem que o torturou no campo de concentração nazista de Auschwitz, em busca de vingança.
Para atender esse desejo póstumo, Cheyenne inicia sua jornada pelo interior da América, resultando invariavelmente em situações inusitadas, ora por sua aparência e trajes bizarros, ora pelo resquício de fama dos que ainda se recordam de seu tempo de sucesso. Um bom exemplo é a cena em que Cheyenne faz um dueto com uma criança, onde o garoto teima que a canção This must be a place, dos Talking Heads, é de autoria da banda Arcade Fire, quando na verdade se trata apenas de um cover. Ali, fica claro para Cheyenne que a geração agora é outra, seu tempo já passou e resta apenas guardar a guitarra no saco. Por falar em Talking Heads, o filme conta com a participação de David Byrne, interpretando ele mesmo, sendo mais um a prestar reverência à ex-estrela do rock.
Traçando um paralelo com a literatura, no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, o personagem central, Bentinho, resolve “atar as duas pontas da vida”, refletindo sobre sua juventude e a velhice, e de como foi acabar amargo e infeliz. Em Aqui é o meu lugar, Cheyenne faz o mesmo, ao tentar resolver seus problemas e pendências familiares e se deparar com a estranheza de sua própria existência.
Se a vida de Cheyenne foi um tanto sombria, a história do filme é tratada de uma forma leve e divertida; o show um dia pode terminar, mas a reflexão sempre pode ser exercida. E isso também, como demonstra esse filme, pode render um ótimo entretenimento.
- por Huanri Lin.
Um comentário:
GENIAL sua resenha! Parabéns.
Nuno Carré.
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