É díficil eu conseguir demonstrar o quanto gosto e admiro esse pequeno filme que não foi um sucesso de bilheteria, tampouco foi indicado a qualquer prêmio significativo, uma injustiça. O diretor Mike Bender faz um filme simples sobre um tema dificilmente utilizado de forma satisfatória: a raiva mal direcionada.
Joan Allen interpreta Terry Ann Wolfmeyer, uma mãe de classe média americana que está furiosa com o mundo. Seu marido a deixou, suas quatro filhas constantemente a desafiam e não seguem o que ela determinou para elas e está cada vez mais se afundando na bebida. A única pessoa que atura sua companhia é Denny Davies (Kevin Costner em uma interpretação genial) o bêbado da vizinhança, um ex-jogador de beisebol que tem um talk show no rádio onde fala de tudo menos de beisebol.
Joan Allen e Kevin Costner apresentam o momento mais afiado das suas carreiras, Costner consegue conquistar o público com o jeito auto-indulgente de Davies enquanto Allen transborda frustração, raiva e angústia e ainda consegue sair com uma personagem que é ao mesmo tempo engraçada e charmosa.
O diretor Mike Binder ainda assume o papel hilário do colega de Davies, o grosseiro e engraçadissímo Shep Goodman. Binder não tenta fazer um retrato auto-engrandecido da classe média americana, ele também não faz compromissos sérios com nenhum gênero. Essa liberdade, e a sensação de que muitas vezes as reações dos personagens são as mais naturais possíveis, desenvolve os personagens ao invés de servir ao propósito de levar a história adiante. Enquanto isso não favorece a narrativa, o clima criado por essa caótica semelhança com a vida serve fielmente ao propósito do filme. As filhas da personagem de Allen são interpretadas com eficiência por Erika Christensen (Plano de Vôo), Kery Russel (Missão Impossível 3), Alicia Witt (Vanilla Sky) e Evan Rachel Wood (O Lutador).
A trilha sonora é delicada e precisa, as interpretações são ótimas, mas o clima do filme é o que realmente conquista o espectador. Apesar de ter uma reviravolta na trama, o long de Bender não precisa desse artifício e cativa pela sua semelhança com a vida real. "O Outro Lado da Raiva" acaba sendo uma obra eficiente, despretensiosa e que se torna um filme perfeito para aqueles que estão desanimados mas não querem ouvir que tudo vai ficar "bem".
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