John Carter é o novo filme do diretor Andrew Stanton, responsável por pérolas como Procurando Nemo e Wall-E, dos estúdios Disney. O filme estreia nesta sexta e o Cinema Sem Frescura, a convite do Clube do Assinante ZH, esteve na premiere e podemos antecipar para você o que esperar do filme.
Antes de avaliar os méritos do filme eu preciso comentar sobre a péssima campanha de marketing que o filme sofreu por parte da Disney. Com um orçamento de 250 milhões de dólares (Avatar custou US$ 240mi), o filme passou quase que desapercebido internacionalmente nas semanas que antecedem a sua estreia. O trailer oficial virou motivo de piada e um fan-trailer no Youtube apresentou mais qualidade (e recebeu mais atenção) do que o trailer oficial. Nas pesquisas de pré-estreia a maioria das mulheres descartou a ideia de assisti-lo e, na semana de estreia, o longa enfrenta grande concorrência de "O Lorax" que se saiu muito bem na bilheteria na semana passada. Além disso, nas próximas semanas a concorrência aumenta com "Anjos da Lei" e "Jogos Vorazes". Para muitos o filme de Stanton terá grandes dificuldades para recuperar seu investimento. Bom, nada disso tem ajudado o filme, o que de fato é uma pena pois John Carter tem muitas qualidades.
Baseado em uma série de livros escritos apartir de 1912, o filme trata de um capitão confederado americano que acaba sendo transportado para Marte e lá se envolve no conflito entre duas cidades enquanto tenta retornar para a Terra. Lá, ele descobre ter a habilidade de pular longas distâncias e ter uma agilidade maior do que o normal devido a diferença de gravidade e seu caminho se cruza com o da Princesa Dejah, prometida em casamento ao vilão Sab Than.
A principal qualidade é o ritmo. Desde que a trama se inicia, ainda no velho oeste americano, até as aventuras de John em Marte (conhecida pelos nativos como Barsoon) o filme nunca deixa o espectador ficar entediado ou desapontado. A trama tem uma energia e vai se desenvolvendo sempre prendendo a atenção do espectador e tudo isso sem nunca apelar para a ação desenfreada ou para cenas gratuitas. Stanton obviamente escolheu um clima para sua obra e não faz concessões durante sua projeção, John Carter nunca desvia do que se propõe desde o primeiro minuto: entreter e contar sua história da maneira adequada. Porém, essa mesma escolha do diretor acaba não permitindo que alcance todo o seu potencial. Enquanto ganha pontos por não se levar a sério demais, ele mesmo constrói uma aura de épico que nunca é completamente satisfeita. Tivesse ele arriscado mais, poderíamos ter aqui um novo "Coração Valente" intergaláctico, ou poderiamos ter uma absoluta bomba exposta ao ridículo de sua proposta excessivamente fantasiosa. Stanton preferiu seguir o caminho do meio e nos entregou um filme mediano, mas com momentos que nos fazem lembrar do talento por trás de Wall-E e Procurando Nemo.
O meu maior temor em relação ao filme era o protagonista, Taylor Kitsch. O roteiro é fortemente centrado em seu personagem principal e eu não tinha referências do ator (além de uma breve aparição como Gambit em X-Men Origins: Wolverine) e estava esperando pelo pior. Kitsch surpreende e entrega um herói interessante que passa longe do personagem unidimensional comumente apresentado pela Disney. Lynn Collins, a princesa de Barsoon e candidata a par romântico de Carter, é um colírio para os olhos e tem talento o suficiente para se sair bem da enrascada de ter as frases mais piegas do roteiro.
Willem Dafoe apenas dubla a sua "projeção" alienígena chamada Tars Tarkas, mas faz um trabalho tão bom que se torna um coadjuvante indispensável. O resto do elenco é competente, as únicas exceções são Ciaran Hinds e Mark Strong que foram as únicas má escolhas no elenco. O primeiro tem um sutileza que não pode ser apreciada no patético papel Tardos Mors, o fraco rei da facção bondosa de Barsoon, e o segundo tem uma intensidade inadequada ao mais contemplativo, mas de nenhuma forma inofensivo, Matai Shang.
A parte técnica do filme é muito boa. Os efeitos especiais são um pouco inconstantes, algo mais relacionado ao seu uso junto com o 3D, o que os acaba evidenciando desnecessariamente, do que a qualidade dos efeitos. Algumas sequências com as naves são impressionantes, mas infelizmente as sequências que mostram John pulando (especialmente grandes distâncias) ficam um pouco 'capengas'. O próprio 3D é impecável, um dos melhores usos da tecnologia desde Avatar. No início, ele dá um sensação de espetáculo grandioso e depois dá impressão de profundidade que acaba permitindo uma imersão maior no filme.
A trilha sonora de Michael Giacchino faz um óbvia homenagem aos momentos mais românticos de John Williams evocando temas de "Os Caçadores da Arca Perdida" e "Star Wars". Infelizmente Giacchino não cria um tema principal para o filme e essa falta é sentida durante a projeção.
O que realmente pode frustrar o espectador é o fato de que não há nada original aqui. Se você assistiu a Avatar, Star Wars e quaisquer outras obras de ficção-científica dos últimos 100 anos, a história de John Carter pode lhe parecer estranhamente familiar. Mas o filme tem algo especial em sua defesa, todas essas obras beberam da fonte original na qual o filme é baseado. Os livros de Edgar Rice Burroughs (que recebe uma bela homenagem como o sobrinho de Carter) completaram 100 anos em 2012 e foram fonte de inspiração para várias obras que se seguiram. O filme pode não ser necessariamente original mas é a versão cinematográfica definitiva da obra de Burroughs.
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