30 de janeiro de 2012

À Procura da Vingança - (Seraphim Falls, 2006)

Estranhamente À Procura da Vingança me decepcionou, surpreendeu e agradou na mesma proporção. Provavelmente se eu tivesse escrito esse post quando eu assisti esse filme no cinema, há 5 anos, eu teria dito que a minha decepção foi grande e que um encontro entre dois ótimos atores foi desperdiçado. Ao assistir ao filme pelo menos mais duas vezes eu posso dizer com convicção que a minha opinião sobre ele mudou drasticamente.

Eu sempre gostei de Pierce Brosnan por causa dos filmes de James Bond e Liam Neeson sempre foi um grande ator que nos últimos anos vem se graduando em filmes de ação.

Quando eu vi o trailer pela primeira vez e descobri que eles estariam estrelando juntos um western eu fiquei legitimamente empolgado. A premissa da estória era bem básica: "após o fim da guerra civíl americana, um coronel confederado persegue implacavelmente um homem por quem nutre um rancor enorme". Bem básico e sem complicações (revelar mais sobre como a trama se desenvolve se transformaria rapidamente em spoilers). A minha expectativa ficou tão fixada nesse confronto de ação, e foi corroborada pela primeira metade do filme, que eu fiquei surpreso e decepcionado quando da metade para o final a estória começou a andar pelo terreno figurativo e, no final, descambou diretamente para o alegórico. Dadas as minhas expectativas de um western mais "clássico" eu fiquei desapontado. Eu gosto tanto dos dois atores, e depois de assistir o trailer, eu fiquei imaginando algo como "Fogo Contra Fogo" do Velho Oeste e acabei subestimando as qualidades artísticas do filme.

O longa segue mais ou menos de forma tradicional até 2/3 de sua projeção. Nesse meio tempo somos apresentados a uma belíssima fotografia, cortesia de John Toll (que demonstra o seu talento também em Medo da Verdade, O Último Samurai, e Além da Linha Vermelha). A trilha sonora de  Harry Gregson-Williams é burocrática e não contribui para o filme, mas também não atrapalha. Por ser tão insignificante talvez ela possa ser uma indicação de que o diretor David Von Ancken preferiu deixar a tensão do filme transparecer nas interpretações dos atores do que em temas pré-estabelecidos de uma trilha sonora. Ancken escolheu bem um elenco de apoio recheado de coadjuvantes interessantes e que parecem muito à vontade em um western como: Michael Wincott, Tom Noonan e Kevin J. O'Connor.

O clima é de "gato e rato": a performance de Neeson como um perseguidor implacável e Brosnan como o homem acuado e amargurado, disposto a qualquer sacrifício físico para continuar vivendo, são notáveis. A história dos dois e a motivação do personagem de Nesson vão sendo apresentadas em uma série de flashbacks pouco inspirados, mas a crescente tensão do encontro dos dois personagens perde força e ritmo na meia-hora final. A qualidade em si não diminiu, desde que você esteja preparado para observar as sutilezas e entrar em um clima despreendimento e anti-climax.

À Procura da Vingança acaba pecando em não preparar adequadamente seu espectador para sua freada brusca e acaba merecendo ser assistido uma segunda vez. Ao invés de ser um exemplo de ame ou odeie, penso que o filme tem potencial para as duas possibilidades dentro de suas características.

Existem diversas interpretações espalhadas pela internet sobre o simbolismo do filme (algumas são bem óbvias, outras são mais sutis e pessoais) mas algumas delas, apesar de deixarem a trama mais interessante, caminham pelo perigoso terreno da pura especulação. É nessas especulações que podemos nos perder entre a significância oculta de um obra ou a pura invenção para que possamos apreciar mais um filme mediano. Da minha parte, acredito que as observações sutis e o simbolismo exacerbado atribuídos ao filme são verdadeiros e positivos.



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