É notória a boa fase do cinema brasileiro. Finalmente o público do nosso país pode confiar nos diretores, roteiristas e atores da indústria cinematográfica brasileira que, apesar de ainda não ter rentabilidade, demonstra ter uma capacidade infinita de ser competente e competitiva. Orgulho-me, por ser baiano, em dizer que o cinema da Bahia tem seu lugar nessa boa fase. Títulos como Ó Paí Ó e Quincas Berro D´água, e nomes como Lázaro Ramos, Wladimir Brichta e, o mais promissor ator brasileiro da atualidade, Wagner Moura, são exemplos de como a Bahia tem força dentro da sétima arte.
Nessa sexta-feira, 7 de outubro de 2011, estreiou em salas pelo país a mais nova produção essencialmente baiana, Capitães da Areia. Dirigido brilhantemente e com responsabilidade por Cecília Amado, neta do Jorge Amado (autor desse clássico da literatura brasileira) o longa, antes de qualquer coisa, é o retrato de um povo que tem uma singularidade intrínseca à sua essência.
Em Salvador, um grupo de meninos de rua, os Capitães da Areia, têm em roubos e enganações a única forma de viver com a alma. Eles não querem riqueza, nem importância, nem mesmo esperança, o que querem é a liberdade, a possibilidade de não estagnar em face de suas sobrevidas. Liderados pelo valente Pedro Bala, a trupe tem suas regras, suas desavenças, suas marginalidades e, mais que tudo, seu status de família. Porém, um desses garotos se rebela contra a liderança de Bala e cria seu próprio bando. Agora Pedro Bala e seus "irmãos" terão que impor sua força. Mas tudo muda com a chegada da bela e inocente Dora.
A princípio, Capitães da Areia poderia ser apenas mais um filme originado de uma obra da literatura brasileira, mania do cinema nacional, vinda de suas raízes do movimento do Cinema Novo, de enaltecer os problemas ou as riquezas da nossa cultura, o que hoje em dia já não tem mais tanto espaço. Todavia, o longa compensa essa face antiga no cinema nacional com a beleza que inebria o coração do espectador. Cada personagem do filme, na verdade, é uma ramificação de toda a essência do baiano, mais conhecida como "baianidade". O pequeno Boa Vida, um dos integrantes do grupo, é a personificação do humor ardente e despretensioso do baiano, enquanto o sensato Professor é a parte laboral e sábia que integra essa baianidade. Dora, por sua vez, seria o lado inocente, doce e falsamente frágil que faz parte do baiano. Enfim, cada personagem tem seu significado, tendo em Pedro Bala o ápice dessa reflexão, já que ele demonstra a força de um povo que vive seus dias de luta, drama, alegrias e amores.
O filme ainda conta com uma fotografia que encanta pela diversidade de cores, onde o negro é abertamente negro, o branco abertamente branco, e o colorido escancaradamente colorido, mas tudo com um ar frio que demonstra a sua poesia. Por fim, cito ainda a qualidade da trilha-sonora que, de forma ímpar, foi elaborada pelo também baiano Carlinhos Brown.
Quem leu o livro do célebre Jorge Amado perceberá que o filme tem algo de diferente. Acredito que sua neta quis mostrar o avô não como o escritor famoso, renomado e sucedido, mas sim como o baiano que levou a história do seu povo para o imaginário do mundo com a doce e "quente" Gabriela, com a duvidosa Dona Flor, com o venerável Pedro Arcanjo e, em suma, com a beleza dos incríveis Capitães da Areia.
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