14 de dezembro de 2010

Os Famosos e os Duendes da Morte (2009)

O texto está longo, mas uma obra como esta, merece maior destaque. Quando minha sogra comentou que Henrique Larré estava trabalhando com ela e que ele tinha participado de um filme premiado, perguntei: "Quem?", "O quê?". Por mais que eu tente acompanhar as produções cinematográficas, é impossível absorver tudo o que acontece, ainda mais do cinema nacional, onde divulgação e distribuição são uma vergonha. Ia passar batido, mas eu tive que dar um jeito.

"Os Famosos e os Duendes da Morte", de Esmir Filho, é baseado no livro de título homônimo de Ismael Caneppele. ...é uma história complicada. A sinopse no site do filme diz o seguinte: Um garoto de dezesseis anos, fã de Bob Dylan, acessa o mundo através da internet enquanto vê seus dias passarem em uma cidade alemã no interior do Rio Grande do Sul. A chegada de figuras misteriosas na cidade traz lembranças do passado e o leva para um mundo além da realidade.

Bem, o filme não deixa claro, nem no início, nem no fim, do que se trata. É um drama intimista com foco neste contraste que é a vida do garoto (sem nome), interpretado por Henrique Larré, abordando vários temas. O garoto vive num mundo à parte de sua cidade, sempre deprimido, refletindo sobre sua vida, sobre a existência (?). Ele mora com sua mãe, que não sabe o que fazer para ver o filho sorrir. O rapaz tem, entretanto, um fiel amigo, Diego (Samuel Reginatto), o único que consegue fazer o garoto esboçar certa alegria.

Caneppele e Tuanne Eggers
Tudo é um mistério que (não) se resolve (claramente) ao longo do filme e não vou tentar, aqui, explicá-lo, acabaria estragando a oportunidade de, quem não viu, tentar desvendá-lo. Você fica tenso tentando entender porque um menino de 16 anos se isola no seu mundo na internet, escrevendo em um blog e conversando com alguém numa ferramenta de "bate-papo" (MSN) sobre diversos assuntos, inclusive íntimos; procura entender quem é o homem misterioso que provoca raiva em Diego só com sua presença e que aguça um olhar admirado no garoto; fica sufocado tentando entender quem é a garota "Jingle Jangle" (Tuanne Eggers) dos "vídeos amadores" que parece tentar comunicar algo ao garoto...; ainda, você fica buscando resposta para a relação da cidade e do garoto com a ponte. Quem assistir esse filme, deve entender que ele fala de conflito na adolescência, suicídio, tensão sexual, relacionamento familiar, social e amoroso.

Samuel e Henrique 
A narrativa é confusa, mas o filme deve ser visto como um quadro, uma obra de arte. As tomadas são muito bem feitas - Esmir Filho abusa da criatividade ao usar ângulos diferenciados para situações corriqueiras ou sem importância no nosso cotidiano. É preciso admitir que fica mais fácil entender o contexto do filme quando se olha os extras do DVD, o que acho um pecado da produção, cortar cenas e argumentos imprescindíveis: Quem ver só o filme, vai sentir que falta alguma coisa.

Destaco, além da direção "pulso firme" de Esmir Filho, a arte, fotografia e a trilha sonora (a música tema Pigeon Suicide Squad, de Nelo Johann, é excelente). No entanto, o que merece maior destaque é a atuação de Henrique Larré e de Samuel Reginatto. Samuel, apesar da pouca experiência, parece pronto para qualquer papel, é versátil, trilhando do drama à comédia em um piscar de olhos. Larré, o protagonista, é fantástico; longe de ser um simples artista, é um ator nato, capaz de mudar em si o necessário para se tornar aquele personagem. Juntam-se a eles a participação do autor da história (Ismael Caneppele) como um dos personagens principais, junto à silenciosa Tuanne Eggers que empresta seu olhar marcante para criar todo o clima de melancolia do filme.

Esmir e Henrique
"Os Duendes da Morte" estão ficando "famosos" - o filme está conquistando o mundo todo. É o tipo de obra que fica para sempre. Esmir Filho é uma promessa para um Cinema diferenciado no Brasil e posso afirmar que, Henrique Larré e Samuel Reginatto, são nomes para ficarmos de olho.

Tem que ver antes de morrer. "Os Famosos e os Duendes da Morte" é, sim, Cinema Sem Frescura, pelo menos não muita.


"Estar perto, não é físico". frase do garoto, 'Mr Tambourine Man'.




2 comentários:

Hanns Schults disse...

Tenho que dizer que não dou muito valor ao cinema nacional, mas vários títulos recentes estão me fazendo mudar de opinião. Bom, depois de ler sobre esse filme, com certeza vou procurá-lo e assistir. Muito boa a dica!

Rainer Alves disse...

Acabei de assistir, é um filme bem diferente das outras produções nacionais. Gostei bastante: ótima fotografia, boa escolha da trilha sonora, e a história do adolescente que se sente deslocado com os amigos, com a cidade e com a família é muito bem contada.
Parabéns pela crítica.

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