O post de hoje é mais uma colaboração do nosso grande observador, Marcus Zecchini. Sem delongas, ele nos fala, agora, sobre o filme Che - Parte 1 e Parte 2:
Mais uma vez trago à vocês um filme com um conteúdo geográfico (ou histórico, como alguns preferem). Neste post tentarei levar sempre a ideia de que a Geografia e o Cinema estão lado a lado. É interessante destacar que a Geografia é a ciência na qual são estudadas as relações da sociedade com o ambiente (natureza, paisagem) em que vivemos e como o ser humano se apropria dessa natureza (paisagem, ambiente). Neste filme é fácil ver como a geografia e a politica (Geopolítica) são tratadas em primeiro plano, uma vez que as invasões, tomadas ou ataques são coordenados (no sentido geográfico) e os locais desses ataques são fatores que ajudaram na conquista revolucionária.
Bom, o personagem principal do filme é o grande líder revolucionário Ernesto Guevara de LaSerna, ou Che Guevara (Benicio del Toro). Nesse filme, mostra as suas raízes revolucionárias, que começaram após investimentos militares dos EUA sobre a Guatemala, que possuía um governo de cunho populista. Aí conhece Raul Castro (Rodrigo Santoro), que lhe apresenta seu irmão e líder revolucionário, Fidel Castro (Demián Bichir).
O filme é dividido em duas partes, sendo a primeira narrando a história de seus primeiros contatos com a revolução, na qual pregava que a sociedade deveria ter terra, saúde, educação e empregos. Algo muito diferente do que aconteceu em Cuba, no governo de Fulgencio Batista, que era apoiado pelos EUA. Este foi o principal passo para os atos revolucionários do Grupo M26 (Movimento Guerrilheiro 26 de Julho, em alusão à tomada do Quartel de Moncada na cidade de Santiago, liderada por Fidel Castro, em 1953), da qual sobreviveram apenas 12 dos 72 homens que chegaram à Cuba em 1956. O desenrolar do filme mostra como Che (apelido que ganhou em Cuba, pela sua típica gíria argentina) era querido pelos camponeses e entendia o ideal revolucionário proposto ao inicio do movimento, que era derrubar o governo atual e propagar ideais socialistas (terra, saúde, educação e emprego para todos), os quais ele queria levar ao restante da América Latina (sem êxito).
Outro ponto interessante é que o filme não é linear, ele avança e recua no tempo, mostrando desde quando Che conhece Fidel e seus planos para retirar Fulgencio Batista do poder até, aproximadamente, em 1964, em seu discurso à ONU, como representante de Cuba, da qual foi Ministro da Indústria, Presidente do Banco Central e Embaixador (um multi-político assim como foi um multi-homem Médico, Fotógrafo, Guerrilheiro, Político e Idealista acima de tudo).
Trata-se de um filme épico e documental sobre um mito. Entretanto, o diretor, Steven Soderbergh, mostra o homem, Che, que era respeitado por seus ideais e suas convicções. Ao realizar o filme, Soderbergh conseguiu desmitificar o mito, mostrando fraquezas físicas, de liderança e suas frustrações (mostradas no segundo filme).
Alguns "entendidos" de cinema dizem ser um filme ruim, de mal gosto, que dá sono. Provavelmente isso acontece por não admirar as lutas sociais que existem e não levantar a bandeira social. Claro, em guerras ou batalhas não existem vencedores, mas uma coisa é certa, Che é uma das grandes personalidades que, por meio de lutas, conseguiu promover revoluções civis, intelectuais e sociais, onde seus combatentes deveriam saber ler e escrever, os quais entenderiam seus direitos e deveres.
Por fim, a Geografia está em nossas capacidades de entendimento do que se passa em nossa realidade, a Geografia faz isso e, como geógrafo e professor, nada mais justo que tentar provocar esse espírito dentro de vocês, leitores.
* O filme foi apresentado no 61º Festival de Cinema de Cannes (2008), onde teve duas indicações: melhor filme e melhor ator. Venceu o de melhor ator com Benicio del Toro.
* O filme foi baseado no livro de memórias do próprio Che.
* É interessante ressaltar que o elenco é composto por atores e atrizes de diversos países, Venezuela, México, Brasil, Porto Rico, Cuba e outros países latino-americanos, mostrando ainda mais a importância de Che para nós, nem tanto para o Brasil, pois a unidade latina está mais presente na língua espanhola.
Ficha técnica (Fonte: Adoro Cinema / IMDb)
Título original: Che: Part One / Che: Part Two
Duração: 134 min / 135 min
Lançamento: 2008
Direção: Steven Soderbergh
Elenco: Benicio del Toro, Demián Bichir, Rodrigo Santoro, Santiago Cabrera, Julia Ormond, Oscar Isaac entre outros.
2 comentários:
Olha, eu devo confessar o pecado capital que estou cometendo. Há filmes que a gente não precisa ter visto para saber que é bom, às vezes dá pra confiar na opinião dos outros. Devo confessar, assim, que ainda não assisti nem CHE, nem Diários de Motocicleta. Mas ler essa crítica, me coloca na obrigação. Ótima crítica, Marcus, foi um prazer publicá-la. É sempre bom olharmos o Cinema sobre outra ótica.
João, me sinto lisonjeado pelas suas palavras...
E realmente, são filmes bastante interessantes.
A parte 2, não teve o capricho do primeiro, mas ainda assim é obrigatório, mesmo.
E Diários, é muito bom tb!
Postar um comentário